Quando eu era menina, bem pequena, gastava muito do meu
tempo com a minha avó materna. Dona Izaurinha, como assim a chamavam, tinha uma
pequena bodega, onde, além de outros artigos, vendia doces, bolachas e
bolachões que ficavam guardados em um armário.
Era um armário grande e alto de madeira escura e portas
envidraçadas pelas quais podia se ver as mercadorias, guloseimas que muito
atraíam o meu olhar de menina gulosa.
Na prateleira de cima ficavam as bolachas e os bolachões.
Os bolachões
tinham esse nome devido ao seu tamanho, eram umas bolachas do tamanho
aproximado de um pratinho de sobremesa. Sua massa era seca, quebradiça e
adocicada e era costume comê-los com café.
Na prateleira logo abaixo ficavam os biscoitos em forma
de cavalinhos. Eram nesses cavalinhos que meus olhos grudavam e puxando a minha
avó pela saia eu apontava pra que ela pegasse um para mim. Sua massa era
parecida com a do bolachão, por sinal nem tão gostoso assim, mas para mim era a
melhor coisa do mundo.
Competindo com os cavalinhos, na prateleira logo abaixo,
ficavam os “tijolinhos”, docinhos de leite que se desmanchavam na boca,
espalhando cheiro e sabor delicados que me enchiam de prazer e felicidade.
Na hora do lanche, minha avó me servia café com leite numa
xícara verde de ágata e um cavalinho, e depois de tudo, um tijolinho de doce
de leite...
Tudo ali cheirava bem, açúcar, baunilha e alfazema, o
cheiro da casa da minha avó.
Obs:
Bodega - o mesmo que venda, pequeno armazém
As fotos eu as encontrei na internet, nenhuma delas me pertence.
Alfazema era o cheirinho que minha avó usava nas suas gavetas de roupa.
A casa da avó era contígua à bodega. Podia-se entrar pelo salão de vendas ou por um portãozinho ao lado que dava para o pequeno jardim.
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